domingo, 28 de outubro de 2007

Gramática

PARTE I
Andei pensando e escrevendo muito sobre minha birra com o que chamam de "lingüística textual" ser inversamente proporcional a empatia q tenho cada vez mais com a gramática pura, tradicional mesmo. Cheguei até a rascunhar um post a princípio - deve estar salvo. Qualquer hora retomo e publico.

PARTE II
Não gosto de ficar repetindo fonte. Eu gosto de escrever. Aliás, é pra isso q esse blog é feito. Quase não divulgo. Só o prazer de escrever e publicar já vale a pena.

CITAÇÃO
Mas aí vem o Reinaldo Azevedo (de novo!) e dá uma senhora
aula de língua portuguesa (de novo!), de gramática, e me clareia as idéias especialmente no significado na relação entre língua e povo:
"Se quiserem, dou aqui uma de uspiano, cito algumas passagens de Guimarães Rosa e demonstro que a língua viva é aquela do povo — ou aquela do que a academia supõe que seja o povo (meu Deus, perfeito!). Na USP, há sempre alguém disposto a endossar qualquer registro. É evidente que as formas adotadas pelo falante são as que tornam a sua comunicação mais eficiente. Mas uma língua não serve apenas ao diálogo dos falantes. Ela também dialoga com a cultura e, pois, com a tradição que a precede. É a existência desse núcleo conservador que garante a folia mudancista da superfície. A gramática é como a vida. É como a política. É como as instituições."

EPÍLOGO
Cara, é isso! Essa é a idéia! Esse núcleo, q ele cita, tem sido alvo de constantes pensamentos e idéias - e já pensava nisso, mesmo com música: a idéia que os clássicos são a fonte que permite a coisa em questão viver através dos tempos; renascer sem ter morrido. Algo que transmita todo o legado cultural do respectivo povo, que garanta sua alma, suas peculiaridades, seu lugar ao sol. Aquilo que torna cada povo único. Um Fernando Pessoa para os montes de torturadores de verso que apareceram, aparecem e aparecerão. Aí vc lembra de Machado de Assis, Luís de Camões, Lima Barreto, Murilo Mendes... os grandes, que sempre serão necessários. A alma da língua.
Mas Tio Reinaldo foi ainda mais feliz ao chutar a cara da academia. Senão, vejamos: consideremos fala como apropriação da língua pelo falante, que a utiliza no processo de comunicação. Ok. Isso é algo essencialmente individual. Peça a 10 pessoas para lerem um texto e, em seguida, contá-lo em voz alta. Provavelmente (não fiz o teste), vc ouvirá 10 histórias diferentes. Então, para o estudo da língua, tiraremos de QUAL falante? A frase que negritei é a resposta da academia: quem ELA SUPÕE SER o povo. E pra mim isso tem nome: chute, conduta que sempre trás grandes chances de erro.

POST SCRIPTUM
Last but not least: quem garante que o "povo" (seja lá o q isso queira dizer) não quer aprender a falar bem? A falar bonito? A saber regras básicas da língua, de seu funcionamento? Quem disse que ele não pode ter pelo menos ESCOLHA, se quer ou não aprender? Será que negar isso não é, como tenho insistido, deixar o tal "falante" em seu próprio gueto? Não é desprezar o que nos torna universais, como parte do mundo, para nos fechar em nosso próprio umbigo?

O post "anterior" que o RA cita, sobre gerúndio e gerundismo, é esse aqui. Enjoy.

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sábado, 13 de outubro de 2007

Rodoviária (ou "por que alguns discos serão sempre clássicos")

Sexta-feira, 12 de outubro: feriado. Você aguarda a chegada daqueles 03 dias com a convicção de não se mover além do mínimo necessário pra não morrer de fome. Aí, pinta uma missão que te faz ter uma única certeza: não, eu não vou conseguir descansar MESMO. No meu caso, a missão era buscar minha tia na rodoviária. Tanto barulho por tão pouco, não? É, mas olha só: ela sairia do Rio de Janeiro às 23h50. A viagem até aqui dura algo entre quatro horas e meia e cinco horas. Em suma, meu feriado começaria com uma expedição até a Rodoviária num horário super "alternativo": 04h20 e 04h50 da manhã.
Mas pela intensidade do feriado de Nossa Senhora Aparecida, titia só aportou na capital aeroespacial às 06h30. Já feliz (pô, 02 horas de sono a mais, cara!), procurei algo pra ouvir. Dei uma topada clássica no pé do sofá, gritei um "AAH" as soft as I could, lembrei do começo de I Cant Quit You, do (vá lá: com) Led Zeppelin. E comecei a procurar a música, entre meus cd's. Achei logo de cara o primeirão da banda, Led Zeppelin I, de 1969. E aqui a história começa de verdade.
Sexta-feira, 12 de outubro: feriado. Um dia lindo, típico de verão. Temperatura agradável, o que publicitários chamariam de "frescor da manhã". Entrei no carro, coloco o cd, "Good Times, Bad Times", perfeita. Casava com o dia (tanto que teve um trecho sampleado em "Sábado", do Paralamas). Aí pensei: acaba essa eu pulo pra I Cant Quit You, q é a penúltima, e beleza. Só q concentrado na direção, sou atingido em cheio pela introdução de Babe I'm Gonna Leave You: aquele violão chorando, o Robert Plant sussurrando a letra, o finalzinho com o violão chorando um lick arrebatador de blues, no clima. E vem You Shook Me, uma aula de blues, heavy-blues, blues rock: marcadona, quase marcial, pesada, densa, intensa, sensualíssima. E os quatro arregaçando uma Jam Session de cair o queixo, memorável.
E tome Dazed And Confused, dizaí! Me rendi. Knock-down. E enquanto a música entrava numa quebradeira alucinante, me veio a idéia definitiva, inapelável: certos discos são e serão clássicos eternos. Daqui a 280 anos, as pessoas vão colocar um disco assim e pensar isso. Pq o q é bom dura por si só, sem retoques: tem magia própria. Faz de uma ida à Rodoviária um passeio marcante e gostoso. Sem exagero: a boa música deixa a vida saborosa, colorida.
Então, missão cumprida. Busquei a tia, rememoramos pessoas que temos em comum nas nossas vidas, vi algumas fotos, falei de mim e ela falou dela; ela e minha mãe desceram, entraram falando muito e eu subi. Foi numa vibe muito de boa. Cheguei em casa no finalzinho de Communication Breakdown.
Em casa? Ah, não! Não, não e não. Entrei, cumprimentei o porteiro, estacionei o carro. Olhei ao redor, encostei a cabeça no banco, aumentei o volume e escutei I Cant Quit You Baby inteirinha. E a primeira parte de How Many More Times também. E aí o feriadão começou mesmo.


Eis a capa dessa jóia rara: o primeiro zeppelin de chumbo!

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quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Sujeito indeterminado

Ontem (10/10 - cabalístico, hum?) tivemos aula de morfossintaxe da língua portuguesa. A velha história de sujeito indeterminado, ou pelo menos uma delas: quando tem o pronome "se" junto ao verbo, a oração passa a equivaler a outra que tenha por sujeito "a gente", "alguém"... não podemos determiná-lo com exatidão, portanto. Pro caso de dúvida, você joga o verbo pra voz passiva: se não houver construção possível (por que não haverá sujeito para sofrer a ação, entendem?), realmente é sujeito indeterminado - aí, o verbo é, invariavelmente, conjugado no singular:

- Vive-se bem aqui.

Não dá pra transformar em voz passiva. E também, nota-se, não há sujeito definido na frase. Ele não é determinado, não sabemos QUEM vive bem aqui; sabemos que, via de regra, vive-se bem aqui. O "se" aqui é o que Evanildo Bechara chama de índice de indeterminação do sujeito. Em suma, é o tipo de coisa que você sabe, mas não entende muito bem como funciona. Aí me vem o Reinaldo Azevedo e dá uma
aula que, somada a de ontem, dá uma ótima compreensão do assunto - que apesar de batido, está longe de ser dominado. A íntegra do post segue abaixo:

O sorveteiro camoniano
Sobre a correção que fiz no site de Renan, escreve o leitor Marcelo Lago, tentando me sacanear:

Caro Rei,
Acho que você já foi melhor.
Primeiro, a tradução do Vaticano; recentemente, o hino do Brasil no site da Presidência, e, agora, uma noticiazinha da assessoria do Renan Calheiros.

Vem cá, tem uma placa aqui perto de casa: "Vendem-se picolés". Você não quer lá dar um toque no sujeito?
Um forte abraço,
Marcelo

Respondo
Posso dar um toque, respeitoso, é em você, Marcelo. A gramática do seu sorveteiro é melhor do que a sua. “Vendem-se picolés” é construção camoniana, meu rapaz. Se o bardo fosse apenas anunciar a venda de picolés sem quaisquer outros considerandos, escreveria justamente: “Vendem-se picolés”, com este “se” a indicar o que a gramática baitola chama de “Índice de Apassivação do Sujeito”. Na forma desenvolvida, fica mais claro que “picolés” é sujeito da frase, não objeto direto, como parece: “Picolés são vendidos”. Envie os meus parabéns a seu sorveteiro, um amante da inculta e bela.

Acho que você confundiu o caso com “Precisa-se de livros de gramática". Aqui, o verbo é transitivo indireto, e o sujeito é indeterminado. "Livros de gramática" é objeto indireto. Verbo, você sabe, não concorda com o objeto em português. Assim, pouco importa precisar de um livro de gramática ou de todos, ele não varia: “precisa-se”. Nesse caso, diz-se do “se” que é “Índice de Indeterminação do Sujeito”.

No meu artigo anterior na VEJA, defendi a volta do ensino de gramática em moldes chamados tradicionais. Ela serve para muita coisa. Até pra sacanear os outros, Marcelo...

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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Cena, sumário e panorama

Teoria da Prosa é o que tem mais me despertado a atenção ultimamente. Comecei a ler mais, além dos textos usados em sala. Li “O Enredo” – se não todo, pelo menos a parte que cercava a matéria de sala. O mesmo com “O Personagem”, da Beth Brait, que uma das mais destacadas autoras brasileiras quando o assunto é Bakhtin. E agora lendo “O Foco Narrativo”, da Ligia Chiappini Moraes Leite.

No dia da prova, a professora nos citou Norman Friedman como o homem a ser estudado, e o livro da professora Ligia dedica um capítulo inteiro à Tipologia Narrativa criada por Friedman. Mas para a autora a criação de Friedman usa a mesma definição de “cena” e “sumário narrativo” criada por Percy Lubbock, o que nos leva de volta a essa noção.

Tudo isso, até agora, pra chegar no ponto de partida do texto: me incomodou a discordância que a autora fez da versão portuguesa, que traduzia summary como panorama. A professora Ligia traduziu como sumário. E eis que uma discordância me ajudou a entender a nobreza da pesquisa, do trabalho científico mesmo. Uma centelha, um período solto no meio de um parágrafo.

Eu achava que a autora tinha feito uma opção lexical (summary para sumário) em detrimento da opção semântica da edição portuguesa (summary para panorama). E recorri ao bom e velho dicionário, para embasar meu argumento. O sentido das palavras pesquisadas (sumário, panorama e, claro, narrativa) realmente me enchia de razão. Mas um detalhe fundamental mudou tudo: o meu pensamento fora baseado numa falsa premissa. Eu invertia os conceitos de CENA e SUMÁRIO NARRATIVO. Então reli mais atentamente o trecho sobre Lubbock e fui imediatamente à conceituação dada por Friedman, e aí sim captei perfeitamente a intenção da autora, me tornando cúmplice de sua discordância. Até por uma questão que não me sai da cabeça: o conceito de panorama está muito mais para CENA do que para um SUMÁRIO propriamente dito. No fim das contas, para Norman Friedman:

- SUMÁRIO NARRATIVO: relato generalizado ou a exposição de uma série de eventos abrangendo um certo período de tempo e uma certa variedade de locais, e parece ser o modo normal, simples, de narrar.

- CENA: A cena imediata emerge assim que os detalhes específicos, sucessivos e contínuos do tempo, lugar, ação, personagem e diálogo começam a aparecer.

E pra mim, fica a moral da história: o ato de reler se apresentou como peça fundamental para a percepção adequada do problema. Neste caso específico, a releitura com calma e com um tempo ao menos decente foi o que mais ajudou. Pesquisa, leitura e releitura exaustivas. Senão a coisa não anda.

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sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Se tudo é politicamente correto, por que não a Unip?

O tipo de leitura que tem me enjoado bastante é o que fala sempre em “social”. Saca quando transforma substantivo em verbo? “A importância do BRINCAR e EDUCAR como cognição social”, manja? Nesse tom politicamente correto digno de uma MTV. Outra coisa que irrita: muita abstração. Socializar. Agregar. Sinergia. Cognitivo. E Social, então? Social, meu Deus, como tem. Some-se a sensação de um texto que fala, fala, fala... e não diz. É monolítico. Diz aí, o que você sente quando esbarra num parágrafo assim:

“Os textos, conforme foi dito, por serem formas de cognição social, permitem ao homem organizar cognitivamente o mundo. E é em razão dessa capacidade que são também excelentes meios de intercomunicação, bem como de produção, preservação e transmissão do saber. Determinados aspectos de nossa realidade social só são criados por meio de representação dessa realidade e só assim adquirem validade e relevância social, de tal modo que os textos não apenas tornam o conhecimento visível, mas, na realidade, sociocognitivamente existente. A revolução e evolução do conhecimento necessitam e exigem, permanentemente, formas de representação notoriamente novas e eficientes.”


Ou:

“Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa endossam essa tendência (de explorar cada vez mais aspectos da fala para explorar na escrita; aquela coisa paulo-freireana de “entrar no universo do educando”, pois não), preconizando que, nas aulas de língua portuguesa, o ensino de leitura/produção de textos se desenvolva com base na noção de gêneros, em particular aqueles que os educandos encontram-se expostos no seu dia-a-dia e os que eles necessitam dominar para ampliar sua competência de atuação social.”

Não sei vocês, mas pra mim só faltou fechar com uma musiquinha.

O ensino de gêneros deve, sim, ser explorada – mas justamente no que ele tem de mais polifônico: o CORO DE VOZES, possível e presente no texto. Saber que existe diversidade e ela é saudável. Se eu me reduzir apenas ao meu universo, na melhor das hipóteses me torno uma pessoa preguiçosa. Quanto mais eu souber ao meu redor, muito mais posso saber de mim. E mais tolerante serei com o outro. Fechando o raciocínio: eu posso ser uma pessoa melhor. Se não é uma questão de lógica, então o que é? Se esse não é o objetivo de toda pessoa de bem, então o que temos? O que teremos?

Proselitismo, panfletagem. Honestamente, não caio nessa. O que me emputece é não poder ter contato com algo maior e melhor pra ter que ler isso e fazer uma avaliação ridícula. E aí a ficha cai: os futuros professores de língua portuguesa estão sendo submetidos a este regime de informações e idéias. Serão os responsáveis por passar adiante a língua, maior legado cultural de um povo, sendo formados assim (e olha que já pegamos coisa bem pior. Tia Ingedore tem sido um néctar).

Senhor, tende piedade de nós.

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quarta-feira, 3 de outubro de 2007

RESUMO DA ÓPERA

Começo de outubro. Impressões e digressões.

ESTATISTICA INDUTIVA. Vocês se lembram daquele filme antigo, tosco, "Curso de Verão"? Sessão da Tarde, tipo: "eles perderam a licença para dirigir, e agora estes malucos têm que fazer o... Curso de Verão! Com Tom Berenger." Lembram? Tinha um personagem, o 'cheng so' (means "chinês sozinho", rá, rã) tem um pesadelo na véspera do exame e acorda gritando "eu não sei nada - eu não sei nada - eu não sei NADA!" Então, esse sou eu com estatística. Mas numa atitude incomum, a sorte resolve bafejar Rover: dois chutaços em questão valendo um ponto. No ângulo. As duas. Média, baby.

METODOS DE PESQUISA. A mulher q dá aula disso é uma metralhadora erudita, cara. Tem o dom de voar do assunto em questão, dar um rolê considerável... pra pousar no mesmíssimo lugar de onde saiu. A prova deu 04 temas e pediu pra elaborarmos um resumo acadêmicode 02 deles. Diliça. Fizemos "problemas com livro didático" e "leituras na sala de aula". Prova em dupla, combinamos dar um tema pra cada e carregar no sarcasmo as much as possible. That was fun.

PRAT ENSINO: VIV AMB EDUCATIVO. Adon-nou-ua-da-fuck-it-is... assinar fichas de novo?

ATIVID ACADEM-CIENTIÊNFICO. Preciso lembrar de fazer a p#rra do c&ralho de relatório pra todo @#$%! livro que eu ler. Damn!

LING INGLESA: DIVERS DE USO. Sem querer soar pretensioso, mas não dá pra pensar em dificuldade com certos temas em inglês. Simple present, present perfect... ainda mais nesses exercícios "mamãe lets go to ccaa."

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