terça-feira, 30 de junho de 2009

Da relevância e do respeito

O que faz uma banda se tornar REALMENTE grande? Ok, ela vender muito por um grande período de tempo é um critério interessante - mas que só pode ser medido DEPOIS do disco pronto. O que eu quero saber é como uma banda se torna artisticamente grande e relevante. Pensando nas 02 últimas bandas de rock realmente grandes, que extrapolaram a fronteira do termo "rock", temos uma pista. Falo de U2 e Metallica. Você pode até pensar em Pearl Jam, mas nunca foram excepcionais vendedores de disco. Você pode pensar no Nirvana, mas não tiveram nem tempo de se estabilizar. Você pode pensar em Oasis ou até mesmo em Coldplay, mas são bandas que não atingiram um patamar realmente gigantesco (se o Oasis já atingiu, foi nos anos 90 e não manteve, então...).
Mas volto. Artisticamente, quais os caminhos que a banda faz? Adotando o U2 e o Metallica como exemplo, só me resta a palavra "reinventar". Arriscar, em nome da liberdade artística, da inquietação dos grandes nomes. Guinadas radicais na carreira. E, curiosamente, a grande guinada para as 02 bandas veio em 1991, respectivamente com os discos "Achtung Baby" e "Metallica" (ou "Black Album"). São sonoridades diferentes entre si, tanto quanto U2 e Metallica são diferentes. Mas representaram uma virada bem sucedida economicamente (venderam pra caramba) quanto artisticamente (ganharam respeito pela coragem e ousadia).
Vamos ao U2. Os álbuns imediatamente anteriores, "Joshua Tree" e "Rattle and Hum", venderam muito, tiveram muitas músicas tocadas ad nauseum. Ou seja, uma banda alçada a condição de grande. Poderiam lançar mais do mesmo e colher os frutos até a fórmula se esgotar. Mas não: viraram totalmente, modernizaram o som, botaram batidas dançantes. O "messias do rock", como Bono era chamado inclusive pela imprensa(?) zombou de si mesmo, se maquiou, assumiu outras personas (The Fly, Mr MacFisto, Mirror Ball Man) e foi à luta. Ninguém entendeu, os fãs xiitas ficaram com raiva... e o U2 nunca mais foi o mesmo. A tour Zoo TV mudou o conceito de shows. Palco móvel, telões de altíssima definição. Bono ligando para a Casa Branca durante os shows. Caracterizações, jogo de luz, maquiagem, tudo para o entretenimento. E o U2 passou ao status de banda mítica. Produziram discos bons, regulares, voltaram ao rock básico (no bom All That You Can Leave Behind), cruzaram o mundo com palcos gigantes... e ainda são e serão relevantes.
E o Metallica? Ícone maior do rock de garagem, thrash metal até a medula (Fade to Black a parte), bebedeiras, calças e camisas rasgadas e velhas, atitude punk. A banda mais íntegra do metal, a que se negava a fazer vídeos - e quando fizeram foi no quarto álbum, One, com a banda tocando. Essa mesma One e a tour do álbum "... And Justice for All" já tinham levado o Metallica para um patamar muito superior a qualquer outra banda similar. Mas quando veio a notícia que o produtor do Motley Crue, de nome "Bob Rock", havia sido recrutado para o quinto álbum da banda, ninguém entendeu nada. E quando saíam notícias da gravação, parecia um disco do Emerson, Lake and Palmer, ou do Pink Floyd. Quase um ano no estúdio. Oito meses até achar o som ideal da bateria. Guitarras gravadas em camadas, várias. Baladas, no plural. Canções mais curtas, mais refrões. E então veio Enter Sandman. Maravilhosa, mas diferente de tudo o que fora feito antes. Curta, com imenso apelo comercial, um riff absolutamente incrível - mas nada de thrash metal. O Metallica renegou sua origem? Cuspiu no prato em que comeu? Baladas (lindas, as 02), lados b orquestrados, cover do Queen (a foderosa Stone Cold Crazy). E eles gravaram um clip com um diretor badalado. E outro. E outro. Foram indicados ao Grammy. E entraram pra história. Enter Sandman ainda é presença obrigatória nos shows - e berrada por gerações de fãs, nos shows, em festas ou bares. Seus lançamentos ainda recebem aquele "parem as máquinas".
Algumas bandas perderam oportunidades de atingir este nível e estagnaram (o Iron Maiden é o primeiro exemplo que me vem). Outras atingiram patamar similar justamente por manterem-se fiéis (veja o AC/DC). Mas isso é uma outra conversa, que fica para outro dia.

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sábado, 27 de junho de 2009

Hendrix

Sábado, chuva. Sem post, só Hendrix.













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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Eça

Lendo "A Relíquia", deliciosamente difícil. Muito bom, muito bom. Prosa fantástica, flui bem - te deixa com vontade de continuar lendo (o que me deixa desesperado, porque não consegui mais de 02 páginas de uma vez ainda). Enfim, consegui meu exemplar numa feira de trocas aqui na escola, bem interessante. Mas o comentário do meu tio sobre uma característica literaria do Eça de Queiroz, no almoço de domingo, vale o registro: "É uma leitura que enriquece o vocabulário, porque ele tem o hábito de adjetivar substantivos".
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"Depois do café, o meu sapientíssimo amigo, com o lápis dos apontamentos na algibeira da rabona, abalou a rebuscar antigualhas e pedras do tempo dos Ptolomeus..."

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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Minnie the Moocher

Sábado de manhã, dia de pagar contas. Estacionamos em frente ao terminal 24 horas do banco, Sefir desce do carro, entra na agência. Aproveito para aumentar (muito) o volume do carro. Sefir volta rindo, pergunto por quê. Ela diz que ouviu a música, mas não imaginou que o som viesse do nosso carro. E um casal entrou falando da música, que tinha visto no filme (The Blues Brothers, 1980 - fantástico!) e que era legal, além de inusitado, escutar aquela música em SJC num sábado de manhã. Pois é, amigo. A gente que gosta de umas coisas diferentes sempre acha que está só no mundo. Não sei quem são essas pessoas, mas dedico o post (e o vídeo abaixo) a esse casal. E, claro, a Cab Calloway, que a canta com paixão.

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terça-feira, 23 de junho de 2009

Economia Subterrânea (ou: "como?")

"Não sou um especialista em Brasil, mas qualquer país cuja economia subterrânea seja significativa precisa repensar a forma como tem conduzido suas políticas públicas. Excesso de regulamentações, altos impostos, burocracia e corrupção estimulam a economia clandestina e, por isso, precisam ser combatidos. Além disso, é preciso prestar mais atenção ao comportamento ético, pois este pode ser o caminho para resolver boa parte dos conflitos e dilemas que alimentam a economia subterrânea."
VITO TANZI, economista italiano, consultor sênior do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)
Retirado da REVISTA ETCO - Abril 2008, n. 9 - ano 5.
Precisa ter esse currículo para 400 talheres pra chegar nesta conclusão óbvia? Mas há questões, creio, mais importantes: uma delas é COMO transformar este "comportamento ético" em norma aceitável e desejável pelo conjunto de cidadãos - como referência a ser seguida mesmo. A outra, tão importante quanto, é como garantir que os desvios deste comportamento ético sejam detectados e punidos, de acordo com a lei, com os princípios de um Estado Democrático e de Direito (uma definição bem direta aqui; reflexões interessantes sobre o tema aqui e na parte 1 deste trabalho). De todas as respostas que começo a pinçar na cabeça, a frase "maior participação política de todos" é o elemento comum. Como? Mais e melhor educação, o que desemboca em outro problema: Como convencer as pessoas que o estudo e a qualificação são pré requisitos para o debate e, consequentemente, para a solução dos problemas (isso tudo sem cair no idealismo barato)? Como?

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domingo, 21 de junho de 2009

Pula a fogueira, iá iá

Festa Junina, sábado agora. Impressões:

- Ser pai é ser praticamente um Highlander: abaixar, ter que lidar com máquinas que não disparam quando você precisa (quem foi o sonofabitch que inventou máquina digital com DOIS flashes?), mães insanas querendo tirar foto ao mesmo tempo, poeira do cacete, música ruim, palpite de todo mundo que acha que faz melhor que você... e ainda fazer tudo isso ABAIXADO! Ai, meus joelhos!

- Muita comida e bebida. Vinho quente (pra cacete), bolinho caipira (iguaria vale paraibana, fantástico!), pipoca, pastel, caldinhos e afins. Mas enche rápido - e olha que Rover é um especialista na arte de comer... muito.

- E com esse papo de "comprar fichinha", o dinheiro vai que você nem vê: quando cai na real, gastou 30 paus!

- Me deter um pouco na questão da música. Gostar de rock and roll é carregar um fardo: tudo que não é rock and roll as pessoas acham que vc odeia - e fazem questão de lembrar isso a cada rima mal feita cantada em dupla q vc escuta. ISSO é mais chato que "pega foooogo o cabaré", entre outras coisas ouvidas. Confesso que já tive meus radicalismos, tudo bem. Mas eu tinha DEZOITO anos, por aí. Hoje, ainda mais depois de ter arrumado a casa ouvindo som alto o dia todo, estava de boa (ou como brinquei com minha irmã, "vacinado", haha). Confesso que até curti algumas coisas (no sentido de achar engraçado mesmo, pq engraçado é). Mas o lance era a festa das minhas filhas, curtir, brincar, beber e comer. É aquela história: a música que EU escolho, eu escuto na minha casa, no meu carro ou com meus amigos. Quando não tenho essa prerrogativa, é let it be. Na boa. Agora, O CONTRÁRIO não acontece. Quem não escuta rock, ou blues, ou jazz, ou simplesmente quem não liga muito para o que sai do alto falante, não tolera a diferença. Experimenta passar um dia inteiro, num churrasco, ouvindo esse neo-sertanejo, ou esse reggae / forró universitário, e então tenta colocar uma sequência de rocks que não seja padrão FM. Você é execrado - já passei por isso "n" vezes. Então quem não é tolerante, my friend? E eu falo isso sem querer pagar de dono da verdade ou por rancor de algo. É observação pura mesmo. Mas que seja cada um na sua.

- E eu passaria por tudo de novo pra ver cada risada das minhas meninas. Dançaria quadrilha dos casais de novo, só pra ver Sefir feliz.

- E como tudo acaba bem, agora tocando Master of Puppets no som do quarto. Hora de acabar o post.

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

Siga aquele carro

E eis que Rover se rende ao Twitter. Follow me, friends!

http://twitter.com/rodrigorover

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quarta-feira, 17 de junho de 2009

I'm an IRON MAN!

Com o meu tradicional delay com o cinema, assisti o Homem de Ferro domingo agora (14/06). Muito legal! Entretenimento no talo, sem cabecismos nem besteiras similares. É pra sentar em frente a tela e curtir. E confirmar: Robert Downey Jr. está fantástico, Gwyneth Paltrow está ok, Jeff Bridges muito bem (só associei "o nome à pessoa" nos créditos!), o roteiro não desliza. A cena final, onde Starks titubeia mas acaba confessando ser o Homem de Ferro é daquelas antológicas pelo cinismo e pelo arroubo de vaidade. Bem legal! E o nome, associado do clássico do Sabbath, néam? Então achei este videozinho que junta os 02: o filme e o Black Sabbath. Cheers!
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E, claro, a versão original (vá lá, a versão ao vivo) desta maravilha. Ladies and gentlemen: Mr Tony Iommi, Mr Geezer Bluter, Mr Bill Ward, Mr Ozzy Osbourne: the fucking BLACK SABBATH!!!



E parabéns pra Dona Carol, ontem, hoje e sempre um grande amor!

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segunda-feira, 15 de junho de 2009

Teoria da Lírica: Ninguém = Ninguém

Tenho (tive) uma birra histórica com os Engenheiros do Hawaii. Gostei muito (basicamente até o Gessinger, Licks & Maltz, de 93, com altos e baixos no caminho), depois passei a não gostar com força - até me ligar que não gostava mais por comodismo (é muito chato ter que defender um ponto de vista toda vez que vc o expõe) do que por questões pessoais mesmo. E revi muita coisa que acabei perdendo; passei a gostar sem problemas, ou sem me importar se seria achincalhado ou não (basicamente passei pela mesma coisa com a Legião Urbana, mas isso fica pra outro post). E vi que achava certas coisas cretinas por ser EU o cretino, não a banda. Exemplo: esta música que posto agora. Quando ele falava que todos eram iguais, mas uns eram mais iguais que os outros, "Revolução dos Bichos" era mais um nome de um musical da Globo do que literatura. George Orwell era o de 1984, aquele que falava do "Grande Irmão", etc, etc. Logo, quando li o livro, a letra fez um sentido tremendo - embora ainda fosse resistente a banda. E a postura "tô cagando pra isso" do Humberto Gessinger me fez MESMO dar mais valor. Porque era muito fácil o cara ter virado figurinha carimbada mainstream. Em vez disso continua escrevendo suas músicas. Goste-se ou não, não tem como negar: O (grupo) Engenheiros do Hawaii, e o Humberto Gessinger em particular, são dos artistas mais nem aí do rock nacional. Livre pra lançar disco quando quiser, livre pra abrir concessão e gravar um Acústico MTV - do jeito que quiser, com o repertório que quiser. E é isso. Vamos à música, então.

Ninguém = Ninguém
Engenheiros do Hawaii
Composição: Humberto Gessinger

Há tantos quadros na parede
Há tantas formas de se ver o mesmo quadro
Ou seja: tem pra todo mundo. Tantos quadros para serem vistos, de tantas formas possíveis...

Há tanta gente pelas ruas
Há tantas ruas e nenhuma é igual a outra
Cada rua, cada bairro, cada "quebrada" com aquilo que tem de bom e ruim - que é o que, no fim das contas, a torna única. Então não faz sentido discutir qual, quem, o quê ou onde é melhor: "nenhuma rua é igual a outra" - depende de como você está, pra ser bom ou ruim.

Ninguém = ninguém
Me encanta que tanta gente sinta
(se é que sente) a mesma indiferença
A indiferença perturba, incomoda. A indiferença é tão marcante que Gessinger ainda reforça, semanticamente e foneticamente com a aliteração SINta (SE é que SENte). Afinal, já que é indiferença, provavelmente as pessoas nem sintam mesmo.

Há tantos quadros na parede
Há tantas formas de se ver o mesmo quadro
Há palavras que nunca são ditas
Há muitas vozes repetindo a mesma frase:
Será que há palavras que nunca são ditas por haverem muitas vozes repetindo sempre a mesma frase?

Ninguém = ninguém
Me espanta que tanta gente minta
(descaradamente) a mesma mentira
Mesma jogada do quadro anterior. Aqui a ênfase se dá através de MINta descaradaMENte a MEsma MENtira. Não há pudor em mentir. O cenário narrado é triste: as pessoas são indiferentes e mentirosas: se escondem na diferença, pois "ninguém = ninguém"...

São todos iguais
E tão desiguais
uns mais iguais que os outros
Além da citação (fantástica, no contexto) de Orwell, as palavras formam como um jogo de espelhos: São iguais, porém desiguais - porque no fim das contas uns são MAIS iguais que os outros. Se uns são mais, outros são MENOS iguais - ou mais diferentes. Privilégio? Superioridade? O que é ser "diferente" num mundo onde a indiferença e a mentira reinam? Eles são exceção ou causa deste mundo podre?

Há pouca água e muita sede
Uma represa, um apartheid
O fato de haver POUCA água e MUITA sede (o contraste que reforça as imagens) é realçado pelo jogo de imagens: tanto a represa quanto o apartheid servem para SEPARAR - água ou pessoas.

(a vida seca, os olhos úmidos)
E já que se fala da represa, nada como citar o romance de Graciliano Ramos (Vidas Secas) como fonte de tristeza, que umedece os olhos - o que umedece os olhos numa vida seca, a não ser as lágrimas de tristeza? Tristeza esta EXATAMENTE por viver essa vida seca - de sentido, de alimento e de esperança. Este mundo indiferente e mentiroso produz este tipo de coisa.

Entre duas pessoas
Entre quatro paredes
Tudo fica claro
Ninguém fica indiferente
"Entre duas pessoas" e "entre quatro paredes" indicam situações que nos envolvem diretamente. E este é o único caso onde "ninguém fica indiferente". O que se pode inferir: as pessoas só se sensibilizam quando o problema é com elas. Ou seja: sentem "indiferença", "mentem descaradamente" - mas não ficam indiferentes "entre duas pessoas" ou "entre quatro paredes". Aí "tudo fica claro".

Ninguém = ninguém
Me assusta que justamente agora
Todo mundo (tanta gente)
tenha ido embora
"justamente agora", quando o autor chega a ponto de cantar o egoísmo das pessoas em alto e bom som, de esfregar na cara das pessoas essa crise de valores... "todo mundo (tanta gente)" foi embora!

(...)
O que me encanta é que tanta gente
Sinta (se é que sente) ou
Minta (desesperadamente)
Da mesma forma
É realmente encantador que um grande número de pessoas caia nesta armadilha de hipocrisia e egoísmo, e se negue a encarar os fatos - "da mesma forma", condicionados que são a viver sem questionar. E quando confrontados, "vão embora". Como o menino que leva a bola embora por não ter sido escolhido para o time principal.

O engraçado é que a letra começa com uma abordagem e viaja para outra bem diferente. Se é proposital ou não, não sei dizer - não a escrevi. Claro, uma análise é, antes de tudo, uma opinião - ou ainda: uma interpretação. O próprio autor pode negar cada palavra do que disse aqui, ainda que isso provavelmente não altere nada do que escrevi. And that's all, folks.

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