quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Finais

A obra literária - a GRANDE obra literária, ou mesmo artística em geral - tem que ter um impacto. Uma passagem, uma cena, uma imagem, um verso, o início... ou o final. E, já em clima de retrospectiva 2010 (rá!), cito 02 finais que me marcaram imensamente.

1. A cena final de "Os Imperdoáveis", de Clint Eastwood.
Ok, Clint é um ídolo. Vi "Gran Torino" e surtei. "Cowboys do Espaço" tb tem das cenas finais mais lindas que já vi no cinema, com Tommy Lee Jones flutuando morto no espaço ao som de "Fly me to the Moon". "Conquista da Honra" e "Cartas de Iwo Jima" me marcaram muito, pra não falar da fantástica trilogia faroeste com Sérgio Leone. Mas a cena final de "Imperdoáveis", quando um William Munt (Clint Eastwood) muito puto entra no saloon pra vingar a morte do amigo Ned (Morgan Freeman, parceria que remete a outro grande filme de Eastwood, "Menina de Ouro") e simplesmente arregaça, com sangue nos olhos... a gente chega a sentir a raiva do cara! Isso é assunto pra um outro post, mas o ódio é uma força motriz imensa. E essa cena é prova disso. As vezes coloco o filme só pra ver essa parte. O filme é muito mais que isso, mas essa cena é impressionante.



2. O final de "A Dócil", de Dostoiévski.
Dostoiévski é, junto com Machado de Assis, meu escritor favorito. Aliás, acho que até mais do que Machado. Esse conto, parte do livro "Duas Narrativas Fantásticas", da Editora 34 (que tem uma série estupenda de literatura russa) é denso do começo ao fim. Ler Dostoiévski é um passeio pelo que há de melhor: a narrativa intensa, as personagens nada lineares, as verdades cruas ditas em desespero. A escrita veloz, as impressões mal costuradas (mas sempre muito bem resolvidas na obra), as citações livres de outras obras e artistas, um show de erudição... impressionante! A história do homem que refaz sua história em frente ao cadáver da esposa que acabara de se suicidar pulando da janela abraçada a um ícone da Virgem é linda, embora dolorida - dor que a gente sente, sobretudo ao final, quando o narrador declara que está tudo morto. Simbolicamente, se isola do mundo, do sol, dos homens, das leis... tudo por não ter conseguido amar, por não ter dado amor e por não ter sido compreendido. O último trecho é de uma dor quase palpável:

"Ah, fosse o que fosse, contanto que ela abrisse os olhos uma única vez! Por um só momentom um só! que me lançasse um olhar, assim como ainda há pouco, quando estava diante de mim e jurava que seria uma esposa fiel! Ah, num único olhar ela teria entendido tudo!
A casmurrice! Ah, a natureza! Os homens estão sozinhos na terra - essa é a desgraça! "Há algum homem vivo nesses campos?" - grita o bogatir (espécie russa de Hércules popular) russo. Também grito eu, que não sou bogatir, e ninguém dá sinal de vida. Dizem que o sol anima o universo. O sol vai nascer e - olhem para ele, por acaso não é um cadáver? Tudo está morto, e há cadáveres por toda a parte. Há somente os homens, e em volta deles o silêncio - essa é a terra! "Homens, amai-vos uns aos outros" - quem disse isso? de quem é esse mandamento? O pêndulo bate insensível, repugnante. Duas horas da madrugada. As suas botinhas estão junto da cama, como que esperando por ela... Não, é sério, quando amanhã a levarem embora, o que é que vai ser de mim?"

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2 Comentários:

Às 17 de janeiro de 2011 às 08:51 , Blogger thais cavalcanti disse...

clint e dostoievski no mesmo post nao tem como dar errado! :)

 
Às 8 de fevereiro de 2011 às 03:30 , Blogger Unknown disse...

OI!!!!

Estou a um tempão para escrever e não encontrava seu e-mail...
Que bacana que vc voltou para o senac, mais bacana para eles, pois vc é excelente professor.
Meu e-mail é: carine@fpassociados.com.br...me passa seu e-mail que eu te conto todos os últimos acontecimentos...haha

beijos e sds!!!

 

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