segunda-feira, 10 de maio de 2010

Beggars Banquet - ou "e o rock está asséptco e pasteurizado"


Rolling Stones é foda. E Beggars Banquet, de 68, prova isso de maneira irrefutável (como se ainda alguém precisasse de prova...). Em um disco eminentemente acústico, gravado há 42 anos, eles conseguem soar mais relevantes que praticamente TODA música contemporânea. E olha que o "praticamente" só vai ali porque eu não conheço tudo. Com alguma relevância e coerência só artista com mais de 14 anos de carreira - coisa que os Stones não tinham em 1968. Mais relevantes, mais agressivos, mais perigosos... até mesmo mais pesados (se você acha que peso é "vocal gutural e afinação baixa", este texto não é pra vc. Nem este blog, aliás). Mas enrolo muito e não vou ao ponto. É um disco impressionante. E xodó desde a primeira hora. Tem Sympathy for the Devil, onde explicitaram o que só Robert Johnson teve coragem: explicitar a conversa do rock (blues, no caso do mestre Robert) com o capiroto. Percussão de macumba (reza a lenda que a canção foi escrita num retiro da dupla Jagger-Richards aqui no Brasil), letra em primeira pessoa testemunhando acontecimentos que só poderiam ter o dedo do tinhoso. O blues melancólico em No Expectations, onde não só a letra é triste, mas a música também: o violão marcadíssimo, o slide que parece um choro mesmo, o piano ponteando... contando a história do cara que não tem expectativa de passar por ali depois da desilusão que tivera. Dear Doctor, o chifre mais engraçado do rock, narrado na forma de um blues caipira divertido se não fosse trágico. Parachute Woman e Jagger pedindo pra ela pousar nele esta noite, mais a folia adolescente de Stray Cat Blues - com Jagger urrando e apostando que "sua mão não sabe que você morde assim", ou "como você arranha minhas costas" (os Stones sempre foram sexuais). O bom humor de Jigsaw Puzzle à seriedade gospel com o sermão Prodigal Son (tocado num violão arregaçante!). Aliás, Keith Richards esculacha neste disco. Debulha o violão do começo ao fim. Com Brian Jones cada vez mais distante do núcleo criativo da banda, Mr. Richards assume as 02 guitarras e destrói. O lado working class (estamos em 68, não se esqueçam) com Factory Girl e Salt of the Earth ("let's drink to the hard working people"), com direito a bandolim na primeira e coral na segunda. Mas deixei pro final a apoteose: Street Fighting Man. É o rock convocando à revolução! É o chamado! E postei tudo isso sobre este discaço pra chegar aqui: se em 68 Jagger cantava "What can a poor boy do, except for singing in a rock and roll band?", hoje isso se perdeu. O rock está asséptico, glamourizado, previsível e mainstream; virou, quem diria, música do sistema (tão longe da estúpida e racista, porém de inegável charme bandido pra época, "música de empregadas e de negros"). Triste constatação, mas o rock se tornou, melancolicamente, tudo aquilo que ele nasceu pra combater (impossível esquecer do clássico do Soundgarden, Fell on Black Days: "whatsoever I fought off, became my life!"). Hoje os garotos pobres (garotos em geral) estão cada vez mais distantes do rock - porque o que chamam de rock só um ignorante pode aceitar como tal. Um mundo onde o rock se divide entre artistas fabricados pela Disney e nerds metidos a besta, não há rock. E nem falo de revolução não - lutar pelo quê? Falo de qualidade musical. Falo de gente que toque ao vivo sem querer ser afetada. Nos dias de hoje, um disco como esse é praticamente impossível. Azar de quem passa batido, né não?










Marcadores: , ,

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial

Desenvolvimento de sites
Desenvolvimento de sites