sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Se tudo é politicamente correto, por que não a Unip?

O tipo de leitura que tem me enjoado bastante é o que fala sempre em “social”. Saca quando transforma substantivo em verbo? “A importância do BRINCAR e EDUCAR como cognição social”, manja? Nesse tom politicamente correto digno de uma MTV. Outra coisa que irrita: muita abstração. Socializar. Agregar. Sinergia. Cognitivo. E Social, então? Social, meu Deus, como tem. Some-se a sensação de um texto que fala, fala, fala... e não diz. É monolítico. Diz aí, o que você sente quando esbarra num parágrafo assim:

“Os textos, conforme foi dito, por serem formas de cognição social, permitem ao homem organizar cognitivamente o mundo. E é em razão dessa capacidade que são também excelentes meios de intercomunicação, bem como de produção, preservação e transmissão do saber. Determinados aspectos de nossa realidade social só são criados por meio de representação dessa realidade e só assim adquirem validade e relevância social, de tal modo que os textos não apenas tornam o conhecimento visível, mas, na realidade, sociocognitivamente existente. A revolução e evolução do conhecimento necessitam e exigem, permanentemente, formas de representação notoriamente novas e eficientes.”


Ou:

“Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa endossam essa tendência (de explorar cada vez mais aspectos da fala para explorar na escrita; aquela coisa paulo-freireana de “entrar no universo do educando”, pois não), preconizando que, nas aulas de língua portuguesa, o ensino de leitura/produção de textos se desenvolva com base na noção de gêneros, em particular aqueles que os educandos encontram-se expostos no seu dia-a-dia e os que eles necessitam dominar para ampliar sua competência de atuação social.”

Não sei vocês, mas pra mim só faltou fechar com uma musiquinha.

O ensino de gêneros deve, sim, ser explorada – mas justamente no que ele tem de mais polifônico: o CORO DE VOZES, possível e presente no texto. Saber que existe diversidade e ela é saudável. Se eu me reduzir apenas ao meu universo, na melhor das hipóteses me torno uma pessoa preguiçosa. Quanto mais eu souber ao meu redor, muito mais posso saber de mim. E mais tolerante serei com o outro. Fechando o raciocínio: eu posso ser uma pessoa melhor. Se não é uma questão de lógica, então o que é? Se esse não é o objetivo de toda pessoa de bem, então o que temos? O que teremos?

Proselitismo, panfletagem. Honestamente, não caio nessa. O que me emputece é não poder ter contato com algo maior e melhor pra ter que ler isso e fazer uma avaliação ridícula. E aí a ficha cai: os futuros professores de língua portuguesa estão sendo submetidos a este regime de informações e idéias. Serão os responsáveis por passar adiante a língua, maior legado cultural de um povo, sendo formados assim (e olha que já pegamos coisa bem pior. Tia Ingedore tem sido um néctar).

Senhor, tende piedade de nós.

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