terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ema, Carlos, Nasi, Pitty

Li Madame Bovary, muito interessante. Quem me depertou pra Gustav Flaubert foi Nelson Rodrigues. No seu "A Sombra das Chuteiras Imortais" tem uma crônica, "Fluminense tão Flaubert". A crônica fala de um jogo em que o Fluminense venceu quando passou a jogar com mais gana e de forma mais simples. Nelson então fala que enquanto o tricolor carioca jogou preocupado com estilo, plasticidade, o placar ficara em branco. E comparava essa atuação a escrita de Flaubert, também cheia de estilo, cuidado e zelo na adjetivação, escolhas lexicais primorosas (e tem gente que não acha Nelson Rodrigues genial): em resumo, quando fez o básico, a equipe pó de arroz venceu. Mas enfim, voltemos: li Madame Bovary.
Nos livros e apostilas a referência que você mais lê é "romance precurssor do realismo francês, com grande impacto na literatura brasileira" (ou do realismo, depende da fonte). Ao ponto então.
Mais que um livro realista, Madame Bovary é uma negação do romantismo. Ou ainda, a saga trágica de Ema Bovary (e também a de Carlos Bovary) é fruto da crença cega no ideário romântico. A bela mulher à espera do príncipe encantado, do amor eternamente passional e rotineiramente inesperado. Carlos, um dos mais célebres cornos da literatura, não fica atrás. O amor absolutamente eterno pela esposa. As constantes tentativas de conquista. Os carinhos excessivos de final feliz tipicamente romanesco. O melancólico e lento desaparecimento através da negação da própria vida quando viúvo. A crença cega no amor (ou a procura por ele, também cabe), com sua desilusão que nada tem de sonho e muito tem de real (e aí sim o nome Realismo se justifica) levou à ruína o casal Bovary.
A questão da adjetivação, do padrão lexical... bem, não li a versão original em francês. Mas a tradução de 1970, da Abril Cultural, revela um esmero admirável. Um trabalho primoroso de Araújo Nabuco - aliás, tradutor é uma raça injustiçada: tem que criar, a partir de um universo já irremediavelmente pronto, toda uma linguagem que ao menos tente transmitir o ideário do autor. E, no entanto, veja você: com um trabalho brilhante como este, não achei um link que fale sobre ele. Mas não quero sair muito do ponto: É um texto realmente carregado, estiloso, mas com uma classe contundente. Frases bem encadeadas... delícia. Mas não pra qualquer um, claro.
Mas e o Ira! e a Pitty? Bem, no dia em que acabei de ler (na sempre-atualizada) voltávamos da faculdade de van, quando o cd do carro tocou essa música, do Acústico do Ira!. Ouvindo o Nasi e a Pitty cantarem aquela letra a associação com Carlos e Ema foi imediata. Quem leu o livro ou conhece a história, me diga: essa letra não foi feita pra Ema Bovary? Ou ainda: não poderia, perfeitamente, ser cantada por ela?

Eu quero sempre mais
Edgar Scandurra

A minha vida
Eu preciso mudar
Todo dia
Prá escapar
Da rotina
Dos meus desejos
Por seus beijos...

E os meus sonhos
Eu procuro acordar
E perseguir meus sonhos..

Mas a realidade
Que vem depois
Não é bem aquela
Que planejei...

Eu quero sempre mais!
Eu quero sempre mais!
Eu espero sempre mais!
De ti!...

Por isso hoje
Estou tão triste
Por que querer está
Tão longe de poder?...

E quem eu quero
Está tão longe
Longe de mim...

Longe de mim!
Longe de mim!
Longe de mim!...

(Longe de mim!)
(Longe de mim!)...

IRA! - Eu Quero Sempre Mais


É brega? É pop? Hey, that's me!

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