terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eu não sou daqui... marinheiro só... (período nacional)

Pai de duas filhas, frequentemente ouço como "inevitável" o fato de elas se curvarem e apreciarem modismos, Justins, Ladies e cosméticos descartáveis em geral. "Você já teve a idade dela e também deve ter consumido muita modinha, só que na época você não chamava assim". É, realmente, como diriam os Ramones, "I am (was, né?) a teenage schizoid". De cara já adorava o rock nacional, com meus 08, 09, 10 anos - época do primeiro Rock In Rio. E ali o som que costumo chamar de "a música que salvou minha vida". Já chegado em livros e míope, ouvir que "por trás dessa lente tem um cara legal" ou "também bate um coração", "eu não nasci de óculos, eu não era assim não" teve um efeito imediato naquela criança.


Os Paralamas viraram amigos pra todo canto, ouvi tudo - na época não dava pra "baixar". Então, era comprar ou gravar (fitas cassete!) de quem tinha. Anos depois ganhei outro disco que me pirou, "Que País É Este?", da Legião. Surto total. Já conhecia a banda ("Soldados", "Ainda É Cedo", "Quase Sem Querer", "Eduardo E Mônica"...), mas aquele disco também bateu forte. A faixa título, "Conexão Amazônica", "Depois do Começo", Química", "Tédio Com Um T"... todas as músicas fortes, intensas. Eu, com 12 anos, lutando pra entender aquilo tudo. Freud? Engels? Jung? Marx? A cocaína não vai chegar por que a conexão amazônica está interrompida? Hã?


Titãs! "Cabeça Dinossauro" já tinha atiçado minha libido em 1986, mas não ganhei o disco. Fui ganhar, em fita, o "Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas", de 1988. Todo Mundo Quer Amor, piração do Arnaldo Antunes. Nome Aos Bois, tentando descobrir quem era quem na letra declamada pelo Nando Reis. Mentiras, Comida, Armas pra Lutar, Diversão, Corações e Mentes... "Õ Blesq Blom", de 1990, "Tudo ao mesmo tempo agora", de 1991 e "Titanomaquia", de 1993, ainda tocam firmes em casa, até hoje, além dos citados.


E a banda que me apresentou ao blues, uma das que mais ouvi na vida: Barão Vermelho. Do Carnaval, de 1988, até hoje, tudo que lança eu procuro escutar - só deixei passar em branco o "Puro êxtase" e o "Ao Vivo + Remixes", acho que a banda não precisava daquilo. Roberto Frejat é um dos grandes guitarristas brasileiros de todos os tempos. Na Calada da Noite, Supermercados da Vida, o Ao Vivo de 1989, TODOS com Cazuza (o ao vivo no Rock in Rio é alucinante)... Barão ainda faz a minha cabeça.


A paulada, no 1º Rock in Rio:


Cazuza, cuja carreira acompanhei de perto até o fim. Essa é do comecinho...


Essas foram as principais, com discos comprados, letras analisadas... mas teve muito mais:

Camisa de Vênus. Desde o "Perdidos na Noite", programa que prova que o Faustão já foi um cara legal...


Quando ouvi o Brasil, do Ratos de Porão, pirei! Era muita porrada na cara de uma sociedade que eu não entendia (bem, com 34 eu ainda não capto direito...). Passava tardes indo na casa do meu amigo Cláudio Fazendão pra ouvir, com a galera da parte de baixo do bairro.


Ultrage a Rigor, puta banda de festa. Minhas filhas, hoje, pedem pra eu colocar!


Engenheiros do Hawaii. Amada pelo público, odiada pela crítica. Eu gostava, dane-se. Ainda gosto. Grandes letras, grandes sons!


Sepultura! Ouvi Inner Self em 89 e... até hoje escuto tudo!


Golpe de Estado. João Penca e Miquinhos. Heróis da Resistência. Nenhum de Nós. Uns e Outros. Inocentes. Ira. Modismo? É Rock Brasil, pulsante, inteligente. Sem ser ridículo ou paga pau! Isso pra não cair na próxima geração: Raimundos, Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S.A., Moleque de Rua, Los Hermanos... esses eu também ouvi pra caramba, mas já dos 17, 18, pra cima. A parada é a seguinte: é possível passar pela adolescência sem ser subproduto de moda. É só querer. Então não trate como inevitável o que inevitável não é.

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2 Comentários:

Às 13 de outubro de 2010 às 16:53 , Anonymous Anônimo disse...

Sensacional. Tudo o que eu tenho a dizer.
O modo como você definiu as coisas foi impressionante!
Cazuza pra presidente, e é isso aí! haha

 
Às 17 de janeiro de 2016 às 19:46 , Anonymous Anônimo disse...

Hei Tchicoooo.... Camisa de vênus é sensacionallllllllll...
Abraço

 

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