quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Cena, sumário e panorama

Teoria da Prosa é o que tem mais me despertado a atenção ultimamente. Comecei a ler mais, além dos textos usados em sala. Li “O Enredo” – se não todo, pelo menos a parte que cercava a matéria de sala. O mesmo com “O Personagem”, da Beth Brait, que uma das mais destacadas autoras brasileiras quando o assunto é Bakhtin. E agora lendo “O Foco Narrativo”, da Ligia Chiappini Moraes Leite.

No dia da prova, a professora nos citou Norman Friedman como o homem a ser estudado, e o livro da professora Ligia dedica um capítulo inteiro à Tipologia Narrativa criada por Friedman. Mas para a autora a criação de Friedman usa a mesma definição de “cena” e “sumário narrativo” criada por Percy Lubbock, o que nos leva de volta a essa noção.

Tudo isso, até agora, pra chegar no ponto de partida do texto: me incomodou a discordância que a autora fez da versão portuguesa, que traduzia summary como panorama. A professora Ligia traduziu como sumário. E eis que uma discordância me ajudou a entender a nobreza da pesquisa, do trabalho científico mesmo. Uma centelha, um período solto no meio de um parágrafo.

Eu achava que a autora tinha feito uma opção lexical (summary para sumário) em detrimento da opção semântica da edição portuguesa (summary para panorama). E recorri ao bom e velho dicionário, para embasar meu argumento. O sentido das palavras pesquisadas (sumário, panorama e, claro, narrativa) realmente me enchia de razão. Mas um detalhe fundamental mudou tudo: o meu pensamento fora baseado numa falsa premissa. Eu invertia os conceitos de CENA e SUMÁRIO NARRATIVO. Então reli mais atentamente o trecho sobre Lubbock e fui imediatamente à conceituação dada por Friedman, e aí sim captei perfeitamente a intenção da autora, me tornando cúmplice de sua discordância. Até por uma questão que não me sai da cabeça: o conceito de panorama está muito mais para CENA do que para um SUMÁRIO propriamente dito. No fim das contas, para Norman Friedman:

- SUMÁRIO NARRATIVO: relato generalizado ou a exposição de uma série de eventos abrangendo um certo período de tempo e uma certa variedade de locais, e parece ser o modo normal, simples, de narrar.

- CENA: A cena imediata emerge assim que os detalhes específicos, sucessivos e contínuos do tempo, lugar, ação, personagem e diálogo começam a aparecer.

E pra mim, fica a moral da história: o ato de reler se apresentou como peça fundamental para a percepção adequada do problema. Neste caso específico, a releitura com calma e com um tempo ao menos decente foi o que mais ajudou. Pesquisa, leitura e releitura exaustivas. Senão a coisa não anda.

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2 Comentários:

Às 10 de outubro de 2007 às 20:21 , Blogger thais cavalcanti disse...

Norman Friedman: vc vai rir, mas já ouvi esse nome em gilmore girls! hahahahahaha as meninas gilmore tb sao cultura!!! // muito bom o post. bom saber que vc tá sugando a facul e divindo conosco ;] // besos

 
Às 14 de julho de 2010 às 18:20 , Blogger Bianca disse...

Gostei muito do comentário. Apenas queria acrescentar (posso?). No SUMÁRIO o narrador "apresenta" os fatos, enquanto na CENA ele os "representa". Sou sua leitora assídua. Abraços!

 

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