segunda-feira, 30 de junho de 2008

Do porquê ser professor

Sala de aula vazia. Apenas o professor, em sua mesa, e o aluno, sentado a sua frente. As notas são por menções (O, de ótimo; B, de bom; I, de insatisfatório), e o mestre dá, individualmente, o que é chamado de "feedback" aos alunos, quando das menções: diz onde ele foi bem e onde ele pode melhorar. Um dos alunos lê muito mal - e, pra piorar, quando fica nervoso, gagueja: troca palavras, come letras, pontua e acentua mal. Porém, longe de fazer disso uma desculpa para seu possível fracasso, o garoto toma as rédeas e segue firme. De tanto o professor orientar sobre a necessidade de boa comunicação para o bom profissional de qualquer área, se matricula num curso de "expressão verbal" e sempre pede orientações ao fim das aulas, sobre como e onde melhorar. Durante as aulas, pede para fazer as leituras em voz alta. Professor pede para que ele fique para receber a menção. Então, segue diálogo.

Professor: Sérgio, rapaz. Estou felicíssimo com sua força de vontade. Parabéns! Como recompensa pelo esforço e como referência aos colegas, sua menção, neste conteúdo, é "O".
Sérgio: Nossa Senhora! Quando o senhor me pediu para ficar, imaginei que era bronca, ou que o senhor ia me dizer pra procurar outro curso. Caramba, "O"??? Muito obrigado, professor!
P: Longe disso! Nâo me agradeça, você ganhou esta menção por mérito seu. Essa força de vontade, essa gana, são características de um grande profissional, com um grande caráter. E como prova de que aprovo e louvo este seu esforço, toma. É um presentinho meu pra você. (saca da mesa, escondido embaixo do diário, o livro "Um Cadáver Ouve Rádio", do brilhante Marcos Rey, Série Vaga-Lume).
S (com os olhos cheios d'água): Caramba, professor, muito obrigado. Nem sei o quê dizer... eu... eu... (começa a chorar copiosamente) Muito obrigado! Hoje mesmo vou ler o livro!
P: Querido, literatura é hábito. Começando, você não pára mais. E se aprimora pra vid...
S: Nossa, tem até dedicatória!!!
P: Tem, tem. Vá em frente, rapaz! Força, persista! Você está no caminho certo.
S (chorando): Obrigado, obrigado! (chora, enxuga o rosto e sai da sala, murmurando "obrigado, professor" a cada passo).

Outro aluno entra para o feedback. Senta, me olha com olhar indagador e dispara:

- Professor, o quê o senhor fez ou disse pro Sérgio que ele saiu com uma cara tão feliz aqui da sala? Ele estava literalmente radiante!

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quinta-feira, 26 de junho de 2008

O punk e a crítica

Interessante a visão do Lucas Murtinho, publicada no blog "Prosa Online", ou "Prosa & Verso", do Globo Online (o melhor jornal eletrônico, disparado): que a internet e suas possibilidades fazem hoje com a crítica literária o mesmo que o punk fez pra música. Abre a possibilidade de cada um fazer crítica, a sua maneira, sem rigidez, formalidades ou academicismos - mesmo em blogs mixurucas, hoho.
Gostei do paralelo. E aplico a mesma visão que tenho do punk, portanto: vai ter muita, mas MUITA porcaria, muito imitador posando de gênio e sendo adulado como tal (taí o mote "sex pistols inventores do punk" que não me deixa mentir). Vai ter muito cara a frente de seu tempo, incompreendido, e que vai ficar como cult ou clássico (como os fantásticos Stooges, do Iggy Pop). E, lá vou eu: pra cada Ramones, ou pra cada crítico bom mesmo, vão surgir centenas, milhares, milhões de cretinos, que não sabem a diferença entre prosa e verso - e que irão incomodar, claro; mas serão esquecidos rapidamente também. E, afinal, isso é bom pra literatura? Sei lá, talvez não seja nem relacionado a qualidade da literatura em si. Mas que é interessante que tenhamos um número de pessoas cada vez maior escrevendo e debatendo literatura, ora, não só é interessante como é ótimo. Vai que a pessoa comece gostando de Sex Pistols e acabe descobrindo um Neil Young no caminho?

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terça-feira, 24 de junho de 2008

Farinha do mesmo saco

Li este post na Jana. Que tinha um link pra este outro, também dela. Reli. Daí li mais este e este no ótimo Imprensa Marrom, do Gravataí Merengue. E li mais este no Reinaldão. Então, imediatamente me lembrei dessa música, que minha irmã vivia repetindo o refrão quando ainda ensaiava as primeiras palavras.

Fio da Navalha
(Guilherme Arantes)

No fio da navalha correm dois trens da central

No fio da navalha
Vive a fina flor da marginália
No fio da navalha
Também vive quem não tem rabo de palha

A vida por um fio
Linha imaginária
Entre o crime e a lei
A lei do mais forte
Ambição e paixão
Jogo do poder
Poder de barganha com a morte
Qualquer zona leste,
Norte , sul
Virou faroeste

Na boca do rio
Bafo de onça
Tempo quente, sangue frio
No gatilho da sorte
Apontado pro céu
A noite é um buraco

Bandido
Mocinho
É tudo farinha do mesmo saco.

(PS: A música é de 1984...)

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sábado, 21 de junho de 2008

room full of blues


Mixwit

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quinta-feira, 19 de junho de 2008

Literatura britânica

Decepções acontecem. Sempre citei como sendo de Machado de Assis a frase "O menino é o pai do homem". Acho-a profunda e, quase sempre (quando a cito), reconfortante. Pois não é que descobri que a frase não é de Machado? É um (vamos lá, Bakthin) intertexto.

"
THE CHILD IS THE FATHER OF MAN"

É da lavra de
William Wordsworth, poeta inglês - na verdade, de um poema chamado "My Heart Leaps Up When I Behold". Autor do "Prefácio às baladas líricas", baladas estas escritas com Samuel Taylor Coleridge (que na verdade contribuiu apenas com "Rime of the ancient mariner" - ei, alguém já ouviu falar disso antes? Clica aqui e aqui pra sacar o som com o poema através de gravuras - seriam de Gustav Dore? *), este tema é considerado o "manifesto" do romantismo inglês. Influenciado pela Revolução Francesa, que depois refutou ao ver o que os populares fizeram quando chegaram ao poder (num período que ficou conhecido como "O Terror"). Influenciado mais ainda pela idéia do "bom selvagem", de Rousseau, fato que pode ser notado pela preferência que ele tem em narrar fatos rurais, paisagens bucólicas. Por ser o poeta da gente simples do interior da Inglaterra, acabou tendo grande prestígio popular, apesar de sua linguagem refinada, embora com forte acento emocional (aspecto notável na poesia romântica).

* Não, não são do Gustav Dore. Aqui você tem o poema declamado pelo Nick Gisburne, com gravuras dele. 27 minutos? Creia-me, vale a viagem - if you speak English, of course... Ou aqui, o poema, as gravuras e a música de Gustav Hoyer. Belíssimo...

-x-

Guga, me perdoe. Mas se eu fosse postar sobre o tri em Roland Garros e ainda sobre o Masters de 2000, em Lisboa, eu ia só falar de ti até o fim do ano. Fico devendo essa, manezinho (embora, honestamente, creio que ninguém ligue mesmo, hoho).

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