quarta-feira, 9 de abril de 2008

Qual é a nota?

Eu já me lasquei em alguns momentos, na minha vida acadêmica, por expor o que penso de peito aberto. Acreditava, de forma ingênua, que era possível, na universidade, um debate pautado por idéias. Por pontos de vista e visões de mundo. Onde o que reinava era o argumento, o fato, a investigação, a busca pela verdade - e a humildade, caso o erro apareça. Já tive nota descontada, desdém de professor, o escambau. Acabei realizando que as pessoas são escravas de suas convicções e de seu status. Disse "suas" e já corrijo: são escravas de suas convicções ideológicas. São escravas das convicções de seu grupo social. Como Rover não anda em bando, se dá o direito de ser livre. Se há algo a ser escravo, é da minha consciência, dos meus princípios. Só os burros têm certeza, já ouvi algo assim. Adiante. Tudo isso pra chegar nas 02 provas que fiz hoje: Estrutura e funcionamento da educação básica e Didática geral. Você que não cursa letras, ou mesmo pedagogia, tá boiando? Segue trechos da apostila da primeira matéria:

"Vale a pena aqui recordar que fomos colônia de exploração, povoada com o excedente que a Europa rejeitou e isto ficou fortemente marcado no inconsciente coletivo do povo brasileiro."

"Na verdade, o modelo de sociedade, de desenvolvimento adotado, concentrador de renda, segregacionista, baseado no acúmulo de capital das elites, acabou por influenciar o modelo de ensino e de educação do país. E a educação não tem conseguido influenciar a sociedade como um todo no sentido de transformá-la, pois está condicionada a manter o “status quo”."


Como cartão de visitas da segunda matéria só cito o seguinte: pra professora, a grande vanguarda na área da pedagogia é a "Pedagogia Crítica dos Conteúdos", baseada no... materialismo histórico! Sim: Hegel! Trecho das anotações do meu caderno (sim, tive que escrever o que vai):


"...movimento pedagógico interessado na educação popular, valorização da escola pública e do trabalho do professor, do ensino de qualidade para o povo (povo, essa entidade abstrata) e, especialmente, na aceitação da importância do domínio do conhecimento por parte de professores e alunos como condição para participação efetiva do povo nas lutas sociais (na política, na profissão, no sindicato, nos movimentos culturais). A didática, nesta teoria, tem como objetivo a direção do processo de ensinar, tendo em vista finalidades sócio-políticas e pedagógicas..."


Pra quem me conhece, imagina as cólicas que tenho nessas aulas de "pedagogia do oprimido", aquela coisa de "serumano enquanto agente social de transformação" (sim, as 02 professoras são fanzocas do Paulo Freire; aliás, poupo vocês da descrição da pedagogia libertadora, copyright paulofreireano).


E eis que hoje tive as 02 provas, das 02 matérias. E nas 02 provas havia uma questão pedindo texto dissertativo - na de Educação Básica um texto sobre a atuação do governo na questão educacional. Na outra, um panorama histórico da didática: da influência da psicologia (Jung, pra ser mais exato) até a didática crítica de conteúdo. Decidi fazer um teste, arriscando minha sagrada nota (q, a essa altura do campeonato, é o q interessa na "sempre-atualizada"): escrevi um texto menos eu-mesmo possível. Teci loas a tudo aquilo que acho causa do nosso atraso. Que o governo não intervém de forma adequada. Que as verbas são insuficientes. Que o materialismo histórico deu a didática uma posição chave não para entender, mas para transformar a sociedade - e cabe a nós, futuros professores, patrocinar a transformação social pelo conhecimento. Resumindo, enchi de clichês esquerdistas os mais descarados e primários. Depois posto as notas, ou pelo menos os comentários das questões. Mas sou capaz de apostar que, pelo menos nessas 02 questões, mandei bem. Dê às pessoas o que elas querem, não é isso? Que merda...


PS: Que nojo a festança do sindicato distribuindo espumante e uísque 12 anos no congresso. Nojo, nojo, nojo. Como diz o bom e velho Reinaldão, pareço-me um pouco com sindicalistas: aprecio boas bebidas, eles também. Eu bebo com meu dinheiro, E ELES TAMBÉM! Bleargh!

PS 2: Cienciano 0 x 3 Mengão. Jogando bem e na altitude. Lá vamos nós!

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2 Comentários:

Às 10 de abril de 2008 às 04:09 , Blogger Marie Tourvel disse...

Rover, Rover, alguém precisa dizer pra essas Marilenas do Oiapoque ao Chuí que inconsciente coletivo de brasileiro é o Vando e suas calcinhas, o resto é balela. E você tem toda razão, tem que dar droga pra quem gosta de droga, ainda mais valendo nota. Papai queria que eu fizesse jornalismo na faculdade, não fui na dele. Me estrumbiquei, claro, mas pelo menos na engenharia e na física não tinha essa punheta mental de "inserido no contexto". E que negócio é esse de Mengão? Cê devia estar torcendo pro glorioso São José, viu? Qual divisão que ele está agora? Beijos, querido

 
Às 24 de abril de 2008 às 18:46 , Blogger thais cavalcanti disse...

ah-rá! give people what they want. fuóda.

 

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