segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Olímpicas - situando as coisas

Motivado por comentários (sim, no plural!) do post abaixo, resolvi fazer um post-resposta. Não acho que o problema do esporte brasileiro seja falta de investimento. Ou ainda, não acho que seja somente este o problema. Pra ser honesto, nem acho que é o maior problema.
O problema é o caráter. É a alma do povo. Aquela mentalidade tacanha de que "o importante é competir" quando, é claro, só entra pra competir aqueles que querem ganhar. Ora bolas, não é esse o sentido da competição, do esporte? Não faria melhor que o Reinaldo Azevedo, por isso recomendo a leitura de 02 textos (aqui e aqui) para clarear mais as coisas.
É questão de formação de um povo, do seu caráter mesmo. Desde "a copa do mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa!", "70 milhões em ação, pra frente Brasil!", somos um país que divide a vitória e crucifica a derrota. Colocando de forma clara: quando ganha, é o país. Aqui, o fracasso é individual e, como sempre, decepcionante. Mas, vejam só, no esporte, ganha o atleta, não ganha "o país" - idem no que concerne a derrota. Até porquê, o que é "o país"? Esse ente abstrato, indefinível... enquanto o cara treina lá 06, 08, 10 horas por dia, o que "o país" tá fazendo? Essa mentalidade coletivista, senha do nosso atraso econômico, cultural e, como estes Jogos Olímpicos demonstram de forma cristalina, atraso esportivo, é o cerne da questão. O despreparo mental vem daí: nenhum atleta, por melhor que seja, aguenta nas costas o peso de 200 milhões de almas. O atleta tem que pensar em sua performance - e, como parece óbvio, isso por si só já é o bastante. Ter de pensar ainda no "povo brasileiro" faz de algo já naturalmente difícil um exercício impossível. Por que nos damos bem, via de regra, em esportes coletivos? Porque ali há um grupo que divide o peso - embora o escrete de futebol na copa de 50 e mesmo o atual volei masculino que ganha em todo lugar menos aqui acabem corroborando o que escrevo. O atleta individual não: ali, sozinho, numa raia de piscina, ginásio ou pista, é ele e seus sonhos, anseios, virtudes e limitações, alinhadas com os sonhos, anseios, virtudes e limitações de outros atletas, de outras agremiações ou países. Quanto mais pesado ele estiver, com essa cobrança, essa obrigação coletiva, pior pra ele. O tombo do Diego, da Jade, da Daiane, dos Tiagos Pereira e Camilo, do João Derly e de tantos outros "favoritos" brasileiros vem daí. Então, de novo: ninguém aguenta 200 milhões de almas nas costas e ainda tem a performance de um atleta de alto nível; é humanamente impossível. Nossa formação cultural já é bem pouco esportiva, nada competitiva. Sem esse foco, essa disciplina, essa mentalidade esportiva mesmo, creiam-me: podem colocar 200 Petrobrás nas contas destes caras que eles vão continuar amarelando via satélite.

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3 Comentários:

Às 19 de agosto de 2008 às 17:17 , Anonymous Anônimo disse...

Este négocio de medalhas, bandeiras e hino acho uma grande papagaiada. (Mas as vezes fico febril, a doença me contagia e eu até torço).
Mas nossas míseras medalhas, demonstram o quanto não praticamos esportes. Deviamos praticar esportes não por medalhas mais por saúde. Então as malditas medalhas viriam naturalmente. Mas o esportista só é descoberto no exercito (corre muito no treinamento), quando tem problema na coluna e medico recomenda natação, quando pula alto no parquinho e um treinador passa de carro e vê(Daiane). Quanto esportista esta aí esquecidos, e nunca serão descobertos.

 
Às 20 de agosto de 2008 às 18:58 , Anonymous Anônimo disse...

Parece que o blogger não gosta de bannners

 
Às 21 de agosto de 2008 às 06:05 , Anonymous Anônimo disse...

Concordo até certo ponto, realmente ninguém aguenta o peso de uma nação inteira, achei ridículo o Diego Hipolito pedindo desculpas ao povo brasileiro por ele não ter conseguido uma medalha. Mas vejamos bem, o que era a ginástica olímpica brasileira a 10 anos atras? ou até menos sei lá! somente depois de um patrocinador robusto é que a coisa começou a andar, quantas Daianes, Jades, Diegos, Cesar Cielos entre outros atletas com resultados estão espalhados pelo país? Aí concordo com o Francisco alí: é pela sorte que se descobre alguém neste país. Deve-se mudar a cultura de prática dos esporte, do tipo de torcida pelos atletas, e do patrocínio.

 

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