terça-feira, 16 de setembro de 2008

Macedão

Hoje fiz a primeira parte "in loco" do estágio obrigatório para o curso. E foi melancólico. Primeiro que parece visita em presídio: um portão gigante, que só é aberto após você ser atendido por uma funcionária, uma senhora negra de cabelos grisalhos muito bacana, mas com os olhos fundos, tristes e desconfiados.
Abre-se o portão e você dá de cara com... outro portão. E à esquerda, outro. Um muro cinza gigantesco, repleto de cacos de vidro. Peço para ir fazendo a parte de observação da escola, enquanto a aula que deveria observar não começa (iria começar às 16h40, eram 14h10). Me encaminham à dona Rose que, com cara de pouquíssimos amigos, me autoriza a rodar pela escola. Os funcionários, todos, me olham com desconfiança - que, arrisco, mistura desconforto, pela minha presença, e medo, do que eu possa estar fazendo ali. Ninguém nunca ligou pra eles, o que eu poderia estar fazendo lá, ainda por cima anotando tudo?
E os alunos? Todos com cara de no future total. Os garotos alheios a tudo, com aquela cara típica da garotada de hoje, algo entre o emputecido e o alienado. As meninas, com seus umbigos e piercings indefectíveis, a despeito do puta frio que fazia, dançavam um funk ou seja lá o que fosse, saído de um celular qualquer, tentando chamar a atenção dos meninos (notem: falamos de primeiro ano do ensino médio, ou seja, 15 pra 16 anos).
Outro portão, trancado, como todos. Entro num corredor escuro, fico sem saída. Uma parede, uma sala, uma portão e um muro. Todas as janelas têm grade. Só me resta voltar. A Biblioteca está fechada. A educação física foi adiada. Outra grade. Uma escada, o pátio. Vazio. Venta. Um vento gelado, cortante. O muro principal, com cacos de vidro e arame farpado. Volto. Outro portão, também trancado. Subo as escadas, me apoiando nos corrimões de ferro, pintados num rosa tão pálido, tão fraco que compunha aquela melancolia naturalmente. Os banheiros, cujas portas principais foram derrubadas por vândalos, estão vazios: de gente, de limpeza e de material. Outra parede enorme, cinza, como todos as outras. Dona Hilda, abre esse portão que eu quero ir embora. Ela abre, eu vou. Com um nó no estômago. Com vontade de chorar e vomitar ao mesmo tempo. Saí pela rua, com pena. Sem saber pra onde ir. Só com pena. Não me admira a cadeia não assustar muitos bandidos, pois aqueles que se tornam tais e foram alunos da escola estadual já se acostumaram com a atmosfera.

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2 Comentários:

Às 16 de setembro de 2008 às 18:07 , Blogger Marie Tourvel disse...

Melancólico mesmo, Rover, querido. Um horror a situação. Passei mesmo para mandar um grande beijo e que poste mais. Sinto uma saudade tremenda de seus posts. Sei que está sem tempo, mas faz uma forcinha, tá? ;) Beijos!

 
Às 18 de setembro de 2008 às 05:09 , Anonymous Anônimo disse...

muito boa a descrição, é por aí mesmo, estudei em escola estadual, e chamávamos as veses de cadeião. Não sei quanto tempo voce passou aí nessa "escola" mas dá pra imaginar tudo o que rola...

abraço, e boa sorte no restim de faculdade que lhe resta.

 

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