sexta-feira, 10 de julho de 2009

Conversa de botas falidas

Fila do banco, meio dia e meia. A mocinha de colete laranja fazendo o que eles chamam de triagem, "é nessa fila aqui mesmo"; "já tentou no caixa eletrônico?"; "isso é só na central do cartão de crédito, por aqui não dá", etc, etc. Tem mais uma pessoa na minha frente. Atrás de mim, um senhor, de boné e camisa preta. Atrás dele, um negro, magro, de camiseta, calça jeans e chinelo. O cidadão de boné comenta com a moça da triagem que quer habilitar a função "crédito", do cartão, para comprar uma máquina de lavar. A moça pede um milhão de documentos e é interrompida. O negro, com grandes olhos tristes, começa a conversa.

- Espero que o meu não precise de tanta coisa. Afinal, vou só encerrar a conta.
- Encerrar?
- É. Desempregado, não dá pra ficar pagando taxa.
- Verdade. Desempregado faz tempo?
- Três meses. Quase quatro.
- Hum. Dureza, hein?
- Dureza. Ainda mais separando.
- Separando?
- É.
- Que coisa...
- Pois é. A gente tava bem. Ela foi visitar a mãe e voltou falando em divórcio.
- Puxa... família quando se mete...
- Homi de Deus, nunca neguei nada pra ela! Ela comprava roupa e, as vezes, me falava muito depois. Sapato, bolsa. Pegava trampo atrás de trampo só pra vê-la bonita.
- ...
- Eu não sei quem colocou minhoca na cabeça dela. Ela me amava, eu podia sentir isso. Agora, ela mal fala comigo.
- Que coisa...
- A minha vida piorou tanto depois que ela saiu, o senhor num imagina. Porque a bichinha era gastadeira, mas sabia administrar.
- Mulher sabe controlar, né?
- Ô! Ainda mais ela, muito inteligente. Eu sozinho não consigo nada. Tô devendo um monte, até pra agiota! Perdi o emprego e não consigo mais nada.
- ...
- Por isso que é melhor encerrar a conta mesmo! Além de tudo, é conta conjunta. Quando vem o extrato e leio o nome dela, dá vontade de chorar! Porque ela é quem fazia as contas, sabia quanto faltava pra quitar. Sozinho, meu senhor, nem trabalho eu consigo.
- E ela?
- Nada! Não consigo falar com ela. Só peço a Deus pra não ser outro homem, senão eu morro.
- Você ainda gosta bem dela, né?
- Se eu gosto? Ela foi a única coisa boa da minha vida.
- É...

A moça chama: "próximo". Era eu. E fui sem ouvir o resto. Chato histórias que têm começo e meio, mas não terminam.

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1 Comentários:

Às 13 de julho de 2009 às 10:32 , Anonymous Fred disse...

mulher é foda mesmo.

 

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